Luiz Gonzaga - Mestre da música
Hoje, Luiz Gonzaga completa 100 anos. Nasceu no dia 13 de Dezembro de 1912 em uma fazenda
chamada "Caiçara".
Foi ele quem abriu as portas da música nordestina para o centro-sul do país. Estilizou e recriou a riqueza musical nordestina e popularizou gêneros regionais, como toada, aboio, xote, chamego e xaxado.
Na década de 1940, com o rádio como principal meio de difusão cultural do país, a música de Gonzaga virou um fenômeno em todo o Brasil.
Sua obra é marcada pela inventividade, originalidade e qualidade do repertório.
Asa branca, por
exemplo, é ainda hoje cantada em todos os cantos do país, fazendo parte do imaginário popular. Luiz Gonzaga teve parceiros brilhantes, como Zé Dantas e Humberto Teixeira. A sua tão popular sanfona passou a ser um instrumento constante do repertório da música brasileira. O conjunto da obra de Gonzaga influenciou artistas como Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Dominguinhos, entre outros.
Chegou a ser renegado pela elite cultural do país, mas logo ganhou reconhecimento e devidas homenagens pela sua contribuição à cultura brasileira. Luiz Gonzaga tornou-se referência para todas as gerações de cantores, compositores e sanfoneiros que vieram depois dele. Exemplo na vida e na arte.
Um pouco da vida de Luiz Gonzaga
Aos sete anos, Luiz já pegava sua enxada. Mas preferia ficar olhando o pai
consertar sanfonas e observar como se tocava esse instrumento. Januário era
sanfoneiro respeitado em toda a região. E Luiz via o pai tocar, estudando os
movimentos dos dedos, louco para experimentar o fole.
Um dia, o pai na roça, Santana na beira do rio, Luiz pegou uma sanfona velha e
começou a tocar. Com poucas tentativas já conseguia tirar melodias do
instrumento. Foi quando a mãe chegou e lhe deu um safanão. Não queria um filho
sanfoneiro que se perderia no sertão. Mas Januário gostava das tendências
musicais do filho. Deixava o filho ir tocando as sanfonas que vinham de longe
para serem consertadas. Só se assustou quando um dono de um terreiro muito
concorrido, pediu licença para Luiz tocar num baile. O menino irrequieto e
cheio de iniciativa, já andara tocando por lá, sem que Januário soubesse,
fazendo grande sucesso.
Naquela noite Luiz tocou com todo entusiasmo, agradando em cheio. Mas realmente
não resistiu. Os olhos pesaram, a sanfona tornou-se um fardo e o menino foi
para a rede. Tão menino ainda que fez xixi enquanto dormia, fugindo para casa
com vergonha.
A partir de então passou a acompanhar Januário pelos forrós daquele sertão.
Santana a princípio discordava mas calou-se depois de ver os dois mil réis que
o menino ganhava revezando-se com o pai na sanfona.
Assim cresceu Luiz Gonzaga: ajudando o pai na roça e na sanfona, acompanhando a
mãe às feiras, fazendo pequenos serviços para os fazendeiros da região, sendo
protegido pelo Coronel Manuel Aires de Alencar. Sr. Aires era homem bondoso e
respeitado até pelos inimigos. Luiz, embora filho de trabalhador, era muito bem
tratado pelos Aires de Alencar. As filhas do Cel. ensinaram-lhe as poucas
letras que aprendeu: assinar o nome, "ler uma carta e escrever
outra". Ensinaram-lhe também a falar correto, comer direito, boas
maneiras.
Foi o Sr. Aires quem realizou o grande sonho de Gonzaga: ter uma sanfona
própria. O instrumento, uma harmônica amarela marca "Veado", custava
120$000, Luiz tinha 60$000 economizados. O Cel. pagou o resto. Mais tarde foi
reembolsado por Luiz com o fruto de seu trabalho de sanfoneiro.
O primeiro dinheiro ganho com sua sanfona foi no casamento de Seu Dezinho, em
Ipueira: ganhou 20$000. Foi nessa festa que sua fama de bom sanfoneiro começou
a fixar-se. Luiz sentiu que seu destino era aquele quando, no meio do baile,
Mestre Duda, o mais respeitado sanfoneiro da região, soltou o elogio:
"Esse menino é um monstro pra tocar".
- Foi o maior elogio que já recebi na minha vida - disse Gonzaga.
Quando descansava da sanfona, Luiz dançava e namorava. Uma vez, pensou em
casar, comprou até alianças, mas Santana acabou com o noivado do adolescente.
Luiz foi falar com os pais da moça. Raimundo não estava; a mãe foi simpática,
mas deu a entender que o pai não aprovaria o namoro.
Tornou-se o recruta 122 numa época violenta: a Revolução de 1930 logo estourava
no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. Para este último Estado seguiu o
batalhão de Luiz, aderindo aos revoltosos na cidade de Sousa. Tinha agora um
apelido: "Bico de Aço", pois tornara-se corneteiro muito competente.
Com a sanfona, tivera um reencontro muito triste. Foi tocar na orquestra do
quartel, o maestro falou:
- Gonzaga, dá um Mi Bemol aí.
- Mi Bemol? Que diabo é isso?
E assim o bom sanfoneiro de Exu ficou de fora da orquestra: não sabia nem a
escala musical. Mas decidiu aprender. Mandou fazer uma sanfona com Seu Carlos
Alemão e começou a estudar com Domingos Ambrósio, O Dominguinhos, famoso
sanfoneiro de Minas. Aprendia o Mi Bemol e as músicas que se tocavam no centro
do país: polcas, valsas, tangos.
Transferido para Ouro Fino, sul de Minas, lá tocou pela primeira vez num clube.
Não deixou o pires do Mangue, mas começou a aparecer em programas
de rádio, como o Zé do Norte, e a conhecer os compositores que admirava:
Augusto Calheiros, Antenógenes Silva. Foi procurado por Januário França.
Precisava de um sanfoneiro para acompanhar Genésio Arruda numa gravação.
Luiz saiu-se tão bem no acompanhamento que o diretor artístico da RCA, Ernesto
Matos, pediu-lhe para tocar alguma coisa em solo. Luiz tocou duas valsas e uma
rancheira. Matos gostou e acabou fazendo uma concessão:
14 de Março de 1941, Luiz Gonzaga gravou seus dois primeiros discos como
solista de sanfona. No primeiro, a mazurca Véspera de São João (Luiz Gonzaga -
Francisco Reis) e Numa Serenata, valsa própria do Luiz. No segundo: Saudades de
São João del Rei (valsa - Simão Jandi) e Vira e Mexe, chamego de Luiz Gonzaga.
Os três 78 rotações que viriam a seguir manteriam a mesma proporção de música
nordestina: Nós queremos uma valsa (Nássara e Frazão), Farolito (Augustín Lara)
e só então o Pé de Serra.
Durante cinco anos Luiz Gonzaga gravaria cerca de setenta músicas. das quais
apenas dez seriam chamegos. A maior parte eram valsas, polcas, mazurcas e
chorinhos, quase sempre de autoria do próprio Gonzaga.
E nesses cinco anos Luiz Gonzaga faria carreira na rádio carioca. Começou com
um contrato na rádio Club, para onde o levou Renato Murce. Substituiu seu ídolo
Antenógenes Silva no Alma do Sertão participava de programas quase todos os
dias da semana. Além disso, tocava no teatro com Genésio Arruda e, nas noites
de domingo, animava os dancings do centro da cidade.
Deixara de vez o Mangue e a dupla com Xavier Pinheiro, mas não esqueceu o amigo
que inclusive o abrigara em sua casa: gravou algumas músicas do Xavier,
divulgando-as para além dos bares frequentados por marinheiros e prostitutas.
Seiscentos mil réis, o título de "maior sanfoneiro do Nordeste", mas
uma severa proibição de cantar. E Luiz insatisfeito:
Luiz começava sua luta para tocar, cantar e gravar suas músicas nordestinas
quando foi despedido da Tamoio (1944). Logo foi contratado, por Cr$1 600, 00,
pela Rádio Nacional, onde Paulo Gracindo, olhando para o rosto redondo de Luiz,
apelidou-o de "Luiz Lua Gonzaga".
Fontes:
Mestres da Música no Brasil
Abril Cultural
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